Classe Médica

Classe Médica
"É vedado ao médico discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto." (Capítulo IV, Art. 47, Resolução CFM nº 1.246/88, DE 08.01.88)

Com essa justificativa, e inspirados pelos casos de xenofobia ocorridos atualmente, criamos este blog para melhor compreender e avaliar a conduta e a participação dos médicos frente às questões sociais.

sábado, 29 de novembro de 2014

Cientistas criticam: MEC vai investir R$ 250 milhões em projeto de Miguel Nicolelis


A comunidade científica brasileira questiona o valor de R$ 247,50 milhões destinados às despesas de manutenção, instalação e gestão do novo Campus do Cérebro, em Macaíba. Os cientistas devem enviar um abaixo-assinado  ao Ministério da Educação questionando a destinação dos recursos para o projeto  idealizado pelo cientista Miguel Nicolelis  em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Mec. O convênio foi assinado entre o Mec,  o Instituto de Ensino e Pesquisa Alberto Santos Dumont e a UFRN, e publicado no Diário Oficial da União de 25 de julho deste ano.
A ação é promovida pelos professores Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo (USP), e José Antônio Rocha Gontijo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles são coordenadores de dois dos três grupos de ciências médicas da Caps (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O envio do abaixo-assinado foi decidido durante um  Encontro Nacional de Pós-Graduação em Medicina em Santa Catarina. 

Médicos questionam Campanha Contra o Racismo

Em guerra permanente contra o governo Dilma desde a implantação do programa Mais Médicos, o Conselho Federal de Medicina questionou uma campanha do Ministério da Saúde, lançada pelo ministro Arthur Chioro, para combater o racismo; “Com esta campanha o Ministério da Saúde insinua que o médico e os outros profissionais diferenciam pela raça, fazem um apartheid, diferenciando o negro do branco. Morrem negros, brancos, morenos e amarelos porque o governo não cuida da saúde pública”, declarou o secretário do CFM, Sidnei Ferreira


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O tímido retorno do parto humanizado - e o motivo de seu sumiço


 O Brasil está entre os primeiros países na porcentagem de partos cesáreos realizados. Mas por que esse índice é alarmante? Porque o parto feito por cesariana é uma cirurgia, e pode gerar hemorragia, infecções e danos a órgãos internos da gestante. E Isso tudo muitas vezes ocorre sem que fosse necessário, pois são poucos os casos de necessidade de cesárea, recomendada apenas quando há complicações. É consenso, e preconizado pelo Ministério da Saúde e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, que o parto normal é menos arriscado, tanto para a mãe quanto para o bebê. Este, inclusive, recebe inúmeros benefícios na escolha do parto normal: durante o parto, a mãe produz ocitocina, hormônio que estudos indicam ser capaz de proteger o recém-nascido de danos no cérebro e ajudar no amadurecimento cerebral, e também prolactina, que favorece a amamentação.

 Todos já ouvimos histórias sobre o quão doloroso e horrível pode ser um parto normal. Mas quando foi que esse distanciamento da fisiologia natural do parto começou? É possível que tenha sido a partir de uma mescla da criação de instâncias do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), que passaram a determinar que um médico só receberia se participasse efetivamente do parto, com a solução de cirurgia única para a laqueadura (esterilização feminina). Para piorar, os valores de ambos os partos - normal e cesárea - ficaram com uma diferença mínima. A escolha do obstetra, então, seria em preferir fazer uma cirurgia rápida e que poderia ser marcada com antecedência do que ter de ficar de prontidão durante todo o trabalho de parto da mulher, algo que pode durar várias horas.

 Com a valorização do parto cesáreo, as equipes obstétricas preparadas para auxiliar no parto normal foram se desfazendo, as faculdades passaram a focar menos no parto natural e muitos leitos hospitalares em ginecologia e obstetrícia foram perdidos; tudo isso culminando numa grande indústria da cesárea.

 O parto humanizado, porém, vem ganhando espaço em meio ao caos cesáreo. A Organização Mundial da Saúde preconizou algumas condutas antes, durante e após o parto que devem ser encorajadas ou não (podem ser analisadas aqui), muitas das quais serviram de argumentos pró parto natural e contra o tratamento hospitalar recebido pelas parturientes por cesariana. Relatos de casos de tratamentos desumanizados provocaram muitas manifestações, nas quais as mulheres exigiam o direito sobre seus corpos, suas escolhas e seus filhos após o nascimento. Além disso, muitos estudos também foram realizados com o objetivo de analisar os benefícios e os riscos de cada tipo de parto.


"Com 52% dos partos feitos por cesarianas - enquanto o índice recomendado pela OMS é de 15% -, o Brasil é o país recordista desse tipo de parto no mundo. Na rede privada, o índice sobe para 83%, chegando a mais de 90% em algumas maternidades. A intervenção deixou de ser um recurso para salvar vidas e passou, na prática, a ser regra. [...]
As pesquisas da Fiocruz mostram a 'baixa informação recebida pelas mulheres em relação às vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de parto e a baixa participação do médico como fonte desta informação'. [...] O estudo e os profissionais de saúde ouvidos pela BBC apontam que as grávidas, de todas as classes sociais, estão longe de estarem bem informadas. [...]
A falta de informação no pré-natal faz com que não haja espaço para esclarecimentos de como a mulher pode lidar com a dor ou outros aspectos, como o que exatamente vai acontecer no parto e como se preparar. [...]
O Ministério da Saúde também informou que não recomenda o uso de ocitocina para aceleração do parto e lembrou que o governo vem tentando combater o número crescente de cesáreas, com iniciativas como a criação da Rede Cegonha e das chamadas Casas de Parto, que têm como metas incentivar o parto normal humanizado."



"Não se pode negar que a cesariana é um recurso valioso para salvar vidas e deve ser usada num quadro crítico. Pode ser o caso, por exemplo, de quando o cordão umbilical sai antes do bebê, durante o parto, fenômeno conhecido como prolapso. Isso corta o fluxo de sangue para a criança. A situação deve ser resolvida em minutos, caso contrário o bebê morre. No entanto, a cesárea é em geral mais arriscada e pode trazer prejuízos para a mãe e o bebê. "


  • "Parto humanizado: um direito a ser respeitado" - artigo que engloba a história do parto e as recomendações da OMS, com o objetivo de conhecer o perfil de puérperas do local de estudo e verificar se os direitos dessas parturientes estavam sendo respeitados.

Os médicos brasileiros têm medo de quê?


     A exploração por parte do capital é uma novidade para o grêmio médico no Brasil. Recentemente um dos setores mais conservadores da sociedade viu sua condição de profissão liberal ser extinta pelos operadores dos planos de saúde que exploram a mais-valia obtida através da prestação dos serviços. Assim, aqueles que foram selecionados através de provas excludentes nas escolas de medicina e que sonham algum dia virar burgueses estão hoje na rua para lutar por reivindicações trabalhistas. Sim, os médicos agora fazem parte da classe trabalhadora, mesmo que não tenham consciência dessa nova relação com os meios sociais da produção.

     No site dos Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Medicina aparecem destacados apelos mais apropriados para sindicatos que para órgãos fiscalizadores de uma profissão, hipertrofiando sua função secundária de zelar “pela valorização do profissional médico”.
     Mobilizações para exigir aumento dos honorários pagos pelos planos de saúde e campanhas para promover carreira de Estado são pautas frequentes nesses órgãos durante os últimos meses. Isso demonstra que os temas trabalhistas ganharam uma notoriedade insuspeita dentre os médicos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Política, classe médica e xenofobia

O INÍCIO DA AFRONTA

A relação da maior parte da classe médica brasileira com o governo da presidente Dilma Rousseff foi se precarizando com a implantação do Programa Mais Médicos, e sua consequente importação de médicos cubanos. O programa foi considerado uma afronta à classe médica brasileira, que estaria sendo desvalorizada pelo seu próprio país. Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), o anúncio da chegada de médicos da ilha caribenha é “eleitoreiro, irresponsável e desrespeitoso”.

No mês de agosto de 2013, centenas de médicos estrangeiros chegaram ao Brasil, em Fortaleza, para serem designados a cidades em que faltavam médicos brasileiros. Foram recebidos, porém, com gritos, xingamentos e vaias, vindos de médicos que foram ao local, digamos, recepcioná-los.

CFM se manifesta sobre avanço do vírus Ebola

O Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou, nesta quinta-feira (23), em Brasília, moção contra a posição de indivíduos, grupos ou governos que pedem o fechamento das fronteiras do continente africano por conta do vírus Ebola. No entanto, a autarquia é a favor da vigilância sanitária necessária ao controle da epidemia.
O grupo também cobra o empenho de autoridades, empresas e cidadãos no enfrentamento da epidemia e que as autoridades brasileiras e internacionais desenvolvam esclarecimento sobre a doença.
A epidemia de ebola já matou 4.877 pessoas, sobretudo em três países do oeste da África (Guiné, Serra Leoa e Libéria), segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado nesta quarta-feira (22/10) em Genebra, e elaborado com dados coletados até 19 de outubro. No total, a OMS contabilizou 9.936 casos da doença em sete países.
Leia a íntegra do documento do CFM:
MOÇÃO DE APOIO AO FIM DA RESTRIÇÃO
AS POPULAÇÕES DE ÁREAS ATINGIDAS PELO EBOLA
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O mundo assiste com perplexidade a ausência de solidariedade para com o continente africano, hoje vítima de diversos conflitos e epidemias, como a do vírus Ebola. O temor manifesto em diversos países tem implicado até em proposições de fechamento de fronteiras à África sob o pretexto de dar segurança à humanidade.
Preocupado com os desdobramentos dessas posições e com o avanço do vírus Ebola, o Conselho Federal de Medicina (CFM) - entidade brasileira que congrega cerca de 400 mil médicos -​ vem a público se manifestar:
1) Contra a posição de indivíduos, grupos ou governos que pedem o fechamento das fronteiras do continente africano e a favor da vigilância sanitária necessária ao controle da epidemia;

2) A favor do empenho de autoridades, empresas e cidadãos no enfrentamento da epidemia, que afeta áreas do continente africano, por meio do envio de insumos, profissionais e recursos humanos;

3) Em prol do desenvolvimento de vacinas e medicamentos de combate e prevenção ao vírus, em condições de produção em larga escala e para distribuição gratuita entre os pacientes;

4) Em defesa de políticas de cooperação internacional com foco no desenvolvimento social e econômico da África, fortalecendo-a, sobretudo, nos campos da saúde e educação.
Finalmente, o CFM pede às autoridades brasileiras e internacionais que implementem amplas campanhas sobre essa doença, estimulando hábitos preventivos, indicando formas e locais de tratamento, e esclarecendo sobre formas de contágio, o que ajuda a evitar o avanço do estigma e do preconceito.
Brasília, 23 de outubro de 2014
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Relatório aponta casos de abusos sexuais na Medicina da USP

O Fantástico revela as conclusões do relatório que apontou barbaridades que ocorrem na principal universidade do país.
A melhor faculdade de Medicina do país, referência em ensino e pesquisa, é alvo de denúncias. Abusos sexuais, violência recorrente contra calouros no trote, racismo. Tudo isso, segundo os acusadores, dentro de instalações da Universidade de São Paulo, a USP. 
“Eles começaram a me beijar, a passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios, enfiaram a mão dentro na minha calça”, disse uma estudante.
“Não tenho memória mais do que aconteceu. Eu fui acordar no hospital em um atendimento do pronto-socorro”, contou outra estudante.
Esses depoimentos foram dados por estudantes em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 11 de novembro.
Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Medicina da USP.
“É um processo muito desgastante. Elas ficam muito expostas”, disse Ana Luiza Cunha, do coletivo feminista Geni.
A promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar denúncias de atos de exclusão, violência física e moral dentro da faculdade de Medicina da USP. A promotora do caso, Paula de Figueiredo, relata que as vítimas procuraram a diretoria, fizeram denúncias, mas não encontraram apoio.